A modernização “Made in Moz” de Arcades

Aiane Mavaca

Os arcades constituíram, durante muito tempo, o primeiro contacto que muitos adolescentes tiveram com os videojogos. Contudo, com o surgimento das consolas e dos smartphones, estes viram o seu declínio.

No entanto, entre aqueles que têm acesso a smartphones e consolas, existem ainda os que não estão incluídos nessa percentagem. Perante esta realidade, há mais de três anos, Aiane Mavaca, jovem moçambicano, viu a necessidade de unir o antigo (arcades) ao novo (consolas), através da modernização e uma proposta de criação de devolução das salas de jogos ao país.

“Sempre gostei de empreender, então perguntei a um amigo se os arcades, por serem algo antigo, ainda rendiam como deveriam. Disse que sim. Pedi ajuda para a primeira produção; tentou ajudar-me, mas não conseguiu concluir o projecto. Então, decidi investigar,  à minha maneira, como fazer os clássicos”, conta.

Com a constatação do potencial, começou a produzir os clássicos, que não geraram o rendimento esperado. Decidiu, então, fazer mais, baseando-se em modelos existentes na África do Sul, que contam com um sistema embutido. 

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Como tudo é feito?

Tudo começa com a compra da madeira prensada; depois segue-se o desenho do dispositivo, os recortes, a colagem e a pintura do arcade. Com a estrutura pronta, procede-se à montagem da consola, que pode ser uma Xbox 360 ou uma PS3, e do temporizador, ajustado consoante o tempo desejado pelo cliente.

“Nos clássicos, inseria-se uma moeda, o que dava um crédito. A pessoa jogava até perder ou até finalizar o jogo. Os modernos têm um temporizador: insere-se a moeda e o tempo é programável. Pode-se definir 5 minutos, 10, 15, e assim por diante”, explica.

A nível de Moçambique, as suas criações já foram enviadas para quatro províncias: Tete, Beira, Maputo e Matola, totalizando mais de 30 máquinas já produzidas.

A criação dos arcades é, na maioria das vezes, solicitada por pessoas com estabelecimentos comerciais, com o objectivo de disponibilizá-los a adolescentes mediante um pagamento que varia entre 5, 10 e até 30 meticais.

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No caso da capital moçambicana, Maputo, Mavaca refere que a procura é menor, em resultado da inclusão digital que está mais expandida do que noutras províncias.

“Em Moçambique não temos nada, tudo tem que ser importado”

Neste percurso, Aiane aponta como principal desafio a obtenção da matéria-prima, devido à fraca produção local, o que obriga a importar quase todo o material necessário para montar um arcade.

“Em Moçambique não temos nada, tudo tem que ser importado. O que mais importa são os temporizadores. Mando vir da China. O resto, madeira, cola, temos aqui nas ferragens”, disse.

Ainda nos desafios, frisa a falta da crença das pessoas nos videojogos, referenciando que para muitos, estes contribuem para o emburrecimento das crianças, algo com o qual o criador discorda frontalmente.

“Cresci a jogar videojogos. Tenho amigos doutores e licenciados que continuam a jogar até hoje. Por isso, digo que não é verdade que os videojogos emburrecem. Pelo contrário, os arcades desenvolvem capacidades nas crianças.”

Tirar os jovens das ruas e das drogas

Apesar das críticas, Aiane sublinha que tem recebido uma boa apreciação de mães, avós e pais que notaram uma mudança positiva nos seus filhos, agora mais afastados das ruas e das drogas.

Com este estímulo, para o futuro, acredita na possibilidade de abrir uma sala de jogos, como forma de ampliação do sonho de levar esta prática a mais adolescentes e jovens.

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