Estamos a viver numa era onde quase tudo acontece num smartphone. Há uma solução digital para tudo: mobile apps, websites, portais. O mundo está digitalizado, e Moçambique não é diferente. A única diferença é que, por cá, a realidade é um pouco mais dura.
O nosso mercado tem suas próprias realidades: poder de compra fraco, literacia digital baixa, smartphones de baixo custo com pouca memória (menos de 4GB de armazenamento, 2GB de RAM), muitos apps pré-instalados que já ocupam metade da vida útil do aparelho. Ou seja: não sobra quase nada para instalar a sua aplicação “inovadora e disruptiva”.
Para alguém instalar a sua app, provavelmente vai ter que apagar uma ou duas aplicações que já usa. E vamos ser sinceros: essa decisão já é uma barreira enorme. E se por sorte, ou persistência, a pessoa decidir instalar a sua app, é bom que não se arrependa. Se não, a desinstalação vem logo a seguir.
Por isso, ter uma pequena base de utilizadores é uma bênção. E isso não serve só para startups, aplica-se também a grandes empresas que estão a lançar novos produtos digitais.
Quando lança uma app, reza para que os números sejam baixos. Pelo menos nos primeiros 3 a 6 meses. Isso vai te permitir aprender com os poucos que usam o seu produto, ajustar, corrigir, melhorar e posicionar-te melhor. Depois, e só depois, é que vens a atrair uma base maior, gradualmente, de forma controlada e saudável.
Pensa nisso como um loop contínuo, quase infinito. “Quase”, porque o fim natural de qualquer produto é “morrer”, depois de atingir a saturação.
Quem são os primeiros a usar a sua app?
- Os inovadores (2.5%)
Estes são os curiosos, os que experimentam tudo. Não querem ficar de fora. Os “@MKBHD da vida”. Mas cuidado: esses não ficam por muito tempo. Em menos de um mês já esqueceram do seu produto. Alguns são influentes e podem até trazer outros com um bom comentário, mas não te agarre a eles. Não conte com eles para retenção.
- Os primeiros adeptos (13.5%)
Estes são os utilizadores com necessidades reais. Estão à procura de soluções e não têm medo de experimentar algo novo. São valiosos. Estes vão dizer tudo: o que está certo, o que está errado, o que pode melhorar. Promovem o seu produto de graça, as pessoas começam a usar o seu produto por causa das recomendações e comentários deles. Se tiver 10 ou 20 destes… agarra-te com força. Ouça, aprenda, meça, adapte.
Estes são a verdadeira bênção.
- A maioria inicial (34%)
Esta parte da audiência vem por influência. Ouviram dizer que a app é boa, que resolve um problema específico.
Nesta fase, o seu produto começa a ganhar popularidade. Mas atenção: chegar aqui sem ter aprendido com os dois grupos anteriores é um desastre à vista.
Não salte etapas.
Querer ser popular logo no início é tentador, mas perigoso. Um crescimento rápido e descontrolado pode resultar num exército de utilizadores insatisfeitos, que vão desistir e falar mal da sua aplicação. E nesse jogo, a má reputação espalha-se mais rápido que um meme no WhatsApp. A famosa frase que diz “Falem bem ou mal, mas falem de mim” não se aplica para produtos digitais.
Prefira ter 100 utilizadores satisfeitos do que 100.000 insatisfeitos
Um caso prático, para trocar isso tudo em quinhentas: Imagina que desenvolveu uma app para a sua igreja. Ela mostra os horários das missas, traz orações personalizadas, e permite interagir com membros de outras congregações. No futuro, sonha que essa app será usada em várias igrejas, talvez até com funcionalidades para gerir dízimos.
A primeira versão da app está pronta. Partilhas no grupo de WhatsApp da igreja onde há mais de 500 membros. Menos de 12 pessoas vão instalar. Apenas 4 vão comentar. Depois, com o apoio do pastor, a app é promovida numa das missas. Mais ou menos 60 pessoas instalam. E aqui é onde deves parar. Agarra-te a esses 60.
Aprenda com eles. Corrige. Meça. Melhora. Ouve cada detalhe. Observa o comportamento. Faz isso por 3 a 6 meses. E com isso, a sua app vai ficando mais sólida, mais madura. Daí a 12 meses, podes ter 170 utilizadores consistentes. E o ciclo continua, com crescimento sustentável.
Por: Benjamim Paulino
Gestor de Produtos na Vodacom
