Mais de 50 mulheres foram salvas através de um grupo do WhatsApp do tráfico de pessoas em Malawi para Omã, país na Ásia Ocidental, para trabalhar em condições de escravidão.
A iniciativa surgiu através da ativista de redes sociais do Malawi, Pililani Mombe Nyoni, de 38 anos, quando se deparou com a mensagem de uma das vítimas que buscava pelo socorro através das redes sociais.
Residente no estado americano de New Hampshire, Pililani Mombe começou a investigar o caso e decidiu criar um grupo para perceber de que se tratava, e concluiu que era “tráfico de pessoas”, conta em reportagem da BBC.
Georgina, é o nome da vítima que chamou a atenção de Pilani Mombe, na sua busca pela ajuda. A jovem acreditava ter sido recrutada para trabalhar como motorista no Dubai.
Com um pequeno negócio em Lilongwe, capital do Malawi, o seu caso iniciou quando esta foi abordada por um agente que lhe disse que poderia ganhar mais dinheiro no Oriente Médio, concretamente em Mascate, capital de Omã.
A história viria a mudar após a chegada ao local, onde se apercebeu que tinha sido enganada e subsequentemente encurralada por uma família que a obrigava a trabalhar horas exaustivas, sete dias por semana.
“Cheguei a um ponto em que não aguentava mais”, conta, detalhando como chegou a dormir apenas duas horas.
Através da criação do grupo do WhatsApp, a activista conseguiu reunir mais de 50 mulheres que se encontravam em situações semelhantes, e partilharam os seus depoimentos através de mensagens de áudio e vídeos que detalham as condições em que elas estavam vivendo.
Algumas destas mulheres contaram que para o envio de ajuda, costumam-se fechar em banheiros, e que tiveram seus passaportes retidos assim que chegaram, impedindo-as de ir embora.
Outras notícias:
Com depoimentos, Pililani começou a falar com instituições de caridade de tráfico de pessoas no Malawi, onde conheceu a Ekaterina Sivolobova, fundadora da Do Bold, com sede na Grécia.
A Do Bold trabalha com uma comunidade de trabalhadores migrantes nos países do Golfo, identificando vítimas de tráfico ou trabalho forçado e, em seguida, negociando a libertação com o empregador.
“Os empregadores pagam um agente para fornecer uma empregada doméstica. Um dos desafios que mais enfrentamos é que o empregador ou agente diz: ‘Quero meu dinheiro de volta, aí ela pode ir para casa”‘,
contou Ekaterina à BBC.
Em Omã, as leis existentes proíbem que uma empregada doméstica deixe o empregador. Ela não pode mudar de emprego e não pode deixar o país, sem importar como seja tratada.
No entanto, o caso de Georgina teve alta repercussão no Malawi que pressionou com que o governo local interviesse e, depois de três meses em Mascate, e com a ajuda de Pililani e de outra pessoa em Omã, Georgina retornou àquele país.
Através dos dados que resultam do grupo do WhatsApp, a organização Centro para Democracia e Desenvolvimento Econômico do Malawi lançou uma campanha de resgate em Omã, pedindo às autoridades que trouxessem as mulheres vítimas do tráfico para suas casas.
Fora salvar mulheres em situações de tráfico, o grupo do WhatsApp tornou-se também um fórum de apoio às que retornaram, com a criadora afirmando que a questão das trabalhadoras domésticas traficadas destaca um problema maior no Malawi: a pobreza e o desemprego.
“Se as meninas tivessem a oportunidade de ter empregos no Malauí, elas não seriam vítimas dessas armadilhas. Precisamos consertar a nação para que esses jovens não caiam nessas armadilhas,” conta.
Em pesquisa com 400 mulheres em Omã, feita pela instituição de caridade de migrantes Do Bold, publicada pelo Relatório de Tráfico de Pessoas do Departamento de Estado dos EUA de 2023, descobriu-se que quase todas eram vítimas do tráfico de pessoas.
Fonte BBC