Fátima Zacaria Hilário, uma jovem de 21 anos, casada e mãe, surge como um exemplo de superação e inovação, ao empreender em negócios que permitem à sua comunidade ter acesso a entretenimento digital e alguns serviços tecnológicos, como é caso de um cinema.
Fátima montou um cinema comunitário em sua casa, conhecido localmente como “clube”. O clube, construído de pau-a-pique, tem capacidade para cerca de 50 pessoas e está equipado com uma antena de televisão satélite, um sistema de som e uma tela. Neste espaço, são exibidos uma variedade de conteúdos de entretenimento, desde telenovelas a jogos de futebol.
Os bilhetes para acessar ao espaço variam de 5 a 20 meticais, sendo o bilhete mais caro para as finais de campeonatos de futebol internacional, conforme explicou a empreendedora.
Além do cinema, Fátima oferece serviços de carregamento de baterias de celular e banca móvel. Estes dois últimos serviços estão disponíveis na mercearia da qual é proprietária, que garante também o abastecimento de alimentos à sua comunidade. Visto que a ilha não possui electricidade, a empreendedora montou um sistema de captação de energia solar no quintal de casa, garantindo o funcionamento do seu empreendimento.
Apaixonada pela tecnologia, conta que teve seu primeiro celular quando estava na 10ª classe, oferecido pelo pai.
“Meu pai ofereceu-me o primeiro celular com internet, eu usava para baixar livros e conectar-me às redes sociais, e gostava muito”,
conta Fátima.
Fátima também possui habilidades para o uso de computador, porém, o computador que tinha danificou-se e enfrenta dificuldades para adquirir outro. Se tivesse um computador, acredita que poderia ampliar seus negócios e oferecer serviços de digitalização de documentos, entre outros para a Ilha.
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Fátima conseguiu financiar seus empreendimentos através das poupanças que ela tem feito na Associação de Poupança e Empréstimo de Aldeia (Village Saving & Loan Associations-VSLA), da qual ela é membro e tesoureira. O VSLA, do qual Fátima faz parte, é implementado na Área de Proteção Ambiental das Ilhas Primeiras e Segundas (APAIPS), pela Ophavela e WWF Moçambique.
Em um país onde o acesso à energia e à internet ainda são limitados, a história de Fátima é um exemplo claro da importância de capacitar as raparigas no uso de tecnologias digitais e facilitar o acesso a linhas de crédito e financiamento para poderem empreender.
Em Moçambique, o acesso à internet e à energia eléctrica ainda são um grande desafio. De acordo com o Inquérito sobre o Impacto do Acesso à Energia Sustentável de 2022, realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), 49,9% da população não tem acesso à energia eléctrica. E quando falamos em internet, apenas 23,2% da população tinha acesso até ao início de 2024, segundo o relatório da Data Reportal.
Quando olhamos para a província de Nampula, a situação é ainda mais crítica, aqui 68,7% da população não tem acesso à energia eléctrica. E na ilha de Catamoio, no distrito de Angoche, onde habitam cerca de 1880 pessoas, o serviço de electricidade ainda não chegou, o que coloca a solução da Fátima como solução para estes desafios.