Em toda a Suécia, professores estão voltando sua atenção para os livros impressos, incorporando períodos de leitura silenciosa e incentivando a prática da escrita à mão, no lugar dos manuais digitais que ganharam popularidade nos últimos tempos.
Manuais digitais é o termo utilizado para referir a manuais ou materiais educacionais disponibilizados em formato digital, como documentos electrónicos, e-books, ou recursos online utilizados no contexto educacional.
Os professores estão também a reduzir o tempo passado nos tablets, a fazer pesquisas autónomas na Internet e a aprender a escrever no teclado.
A mudança para métodos de ensino tradicionais surgiu em reação a questões levantadas por políticos e profissionais sobre a estratégia de educação extremamente digitalizada da Suécia, que incluiu a oferta de tablets a crianças que resultou no enfraquecimento das capacidades fundamentais.
Uma das maiores opositoras à adopção em larga escala da tecnologia foi a ministra sueca da Educação, Lotta Edholm. Para a ministra, “os estudantes suecos precisam de mais manuais escolares”, afirmou Edholm. “Os livros físicos são importantes para a aprendizagem dos alunos.”
A ministra afirmou que o governo pretende anular a decisão da agência nacional de educação que tornou obrigatórios os dispositivos digitais nas pré-escolas. Segundo a Associated Press, o Ministério pretende também acabar com toda a educação digital para crianças com menos de seis anos.
Segundo dados, os alunos suecos destacam-se como os que têm um desempenho acima da média em matéria de competências de leitura em toda a Europa, porém, o Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS), uma pesquisa internacional sobre o nível de leitura dos alunos da quarta classe, revelou uma diminuição das capacidades das crianças suecas entre 2016 e 2021.
Em 2021, os alunos suecos do quarto ano obtiveram uma média de 544 pontos, o que é inferior à média de 555 pontos que obtiveram em 2016. O resultado obtido coloca a Suécia em sétimo lugar, juntamente com Taiwan.
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Singapura ficou no topo da classificação, aumentou a sua pontuação de leitura no PIRLS de 576 para 587 no mesmo período, enquanto a pontuação média de leitura da Inglaterra desceu ligeiramente, de 559 em 2016 para 558 em 2021.
A pandemia pode ter contribuído para as dificuldades de aprendizagem, ou pode dever-se a um aumento do número de alunos imigrantes que não falam sueco. O uso excessivo de ecrãs durante as aulas pode, no entanto, fazer com que as crianças fiquem para trás em temas essenciais, alertam os especialistas em educação.
Para o Instituto Karolinska da Suécia, prestigiada escola de medicina especializada em investigação, há mais do que provas científicas que provam que a utilização de ferramentas digitais prejudica, em vez de melhorar, a aprendizagem dos alunos.
“Pensamos que é melhor aprender com livros impressos e professores do que depender maioritariamente de fontes digitais gratuitas e sem verificação de exatidão”,
lê-se citado pelo The Guardian.
A preocupação sobre os efeitos negativos ou positivos de manuais digitais não é apenas preocupação da Suécia. A agência da ONU para a educação e a cultura, UNESCO, publicou neste ano um relatório que apela urgentemente à utilização adequada da tecnologia na educação.
O relatório aconselha as nações a melhorarem o acesso à Internet nas escolas, mas também adverte que a tecnologia na educação deve ser utilizada sem substituir o ensino presencial, orientado por professores, e complementando o objectivo comum de uma educação de elevada qualidade para todos.
Ao nível do continente europeu Suécia foi rápido a levar tablets e computadores para as escolas, e até para os jardins. Agora, a meta é ver mais canetas, lápis e papel.
Fonte The Guardian