Sankofa Display é o nome da tipografia criada pelo jovem africano Batsi Madzonga, com o objectivo de resgatar e manter vivo o traço africano no design digital, à medida que o mundo abraça a globalização.
O nome Sankofa por si só já é um resgate. A palavra é originária do Twi, da tribo Akan de Ghana, e significa “voltar atrás e ir buscar” ou “não é tabu ir buscar o que está em risco de ser deixado para trás”. E é isso que Batsi sugere: inspirar os designers de todo o mundo a recorrer à sua própria herança cultural como inspiração para os seus trabalhos.
“Tomei consciência da forma como o design digital estava a ficar homogeneizado com a convergência para o minimalismo e as tendências de design ocidentais. Para resolver este problema, decidi criar um projecto chamado Sankofa”,
explica em entrevista.
O tipo de letra Sankofa faz parte de um projecto do designer que inclui também um tipo de letra de ícones e um kit de IU (interface do utilizador) de produtos, o que resultou na criação da estrutura de Design Ubuntu.
O projecto iniciou-se em 2020, quando Batsi contratou um designer de tipografia nigeriano para a direcção artística, e o tipo de letra foi lançado com um conjunto de pouco menos de 200 caracteres.
A tipografia faz parte da Google Fonts, onde já foi utilizada mais de 1,6 milhões de vezes. Quando foi introduzida na plataforma, a tipografia precisou de ser expandida, sendo desafiada a suportar 955 línguas de todo o mundo (mais de 1000 caracteres).
A concepção durou cerca de 7 meses e contou com o apoio da rede de especialistas em tipografia da Google, o que, para Madzonga, foi uma experiência perfeita.
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Ter a tipografia em destaque na Google Fonts é algo fantástico, pois permite perceber que o trabalho e as horas investidas estão a valer a pena e que há, consequentemente, um resgate da herança cultural africana.
“É fantástico ser reconhecido desta forma pelas grandes empresas tecnológicas. É uma verdadeira montra global do trabalho que investi na fonte, e sinto-me honrado com a recepção que teve. Agradeço a Deus por esta oportunidade”, revelou.
Precisamos de celebrar África
A proposta do designer é que a representação e a inclusão continuem a ser valores prioritários, pois as paisagens digitais têm de reflectir a diversidade cultural do nosso mundo.
Batsi considera necessário que os designers comecem a trabalhar em projectos que mostrem as suas capacidades, paixões e celebrem as suas identidades. Na sua visão, é isto que falta ao mundo: trabalhos inspirados nas culturas de cada designer, o que leva à fraca celebração da diversidade cultural tanto quanto possível.
“Quero que os designers procurem inspiração dentro de si próprios e criem trabalhos baseados na sua herança cultural. A minha é africana, pelo que me inspirei nela para criar o Sankofa Display”, afirmou.
Com o sucesso da primeira versão, Batsi trabalha agora numa versão árabe do Sankofa Display, que tem a designação Sankufi. Um jogo de palavras Sankofa + Kufi. A junção ao Kufi deve-se a este ser um estilo geométrico de escrita árabe, que funciona com a estética do Sankofa Display.
A criação de uma versão árabe não é aleatória; é no Médio Oriente que Batsi encontra-se actualmente, como Director de Design de Experiência no Banco Islâmico de Abu Dhabi.
Batsi é formado em Ciências Informáticas pela Universidade da Cidade do Cabo e canaliza a sua paixão pelas plataformas digitais e pelo empreendedorismo, o que o levou a fundar a sua própria agência de design e, posteriormente, a colaborar com grandes empresas do sector.