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Um moçambicano a competir com a Disney 

Nildo Essa

Nildo Essa é o nome do moçambicano que está a criar a próxima geração da Disney africana através da FX Animations, um estúdio que se tem dedicado à produção de histórias africanas aliado à animação.

O nome FX Animations pode passar despercebido, menos um dos trabalhos que a mesma já fez. Neste caso  a publicidade do arroz Ngonhama que na altura do lançamento foi febre, com o personagem Pepito a mostrar a sua força. São essas obras da autoria da FX, empresa que Nildo decidiu fundar em 2004 para responder à falta de conteúdo local. 

Ao longo da criação do estúdio de animação, a falta de profissionais da área foi um dos grandes desafios, quase que, na sua perspectiva, não existia alguém que fizesse o mesmo tipo de trabalho. 

“Percebemos na altura que havia uma lacuna muito grande no que diz respeito a serviço de animação e de efeitos especiais”, conta, afirmando que muitas empresas recorriam a profissionais internacionais.

“Quando começamos, não havia profissionais qualificados, e mesmo agora, depois de 20 anos, ainda são poucos. Ainda não se tem mercado para esta área, é uma coisa que está ser criada”

Conta Nildo Essa em conversa com a Kabum Digital

Um outro desafio foi a falta de apreciação, por parte dos clientes, do nível de dificuldade e dedicação que a área implica, e que, por consequência, resulta em pagamentos injustificáveis para o resultado final. 

Perante a dificuldade, como forma de manter-se, a missão passa por fazer perceber ao público o que realmente significa produzir o trabalho e o que está envolvido e tentar chegar a um meio termo para que o cliente não prefira o conteúdo internacional. 

O sonho de construir uma Disney africana

Disney é o nome de um dos maiores estúdios de produção de conteúdos em audiovisual, com muita presença na animação. É através dessa marca que se consome o conteúdo americano e as suas histórias.

À semelhança da Disney, a FX Animations é resultado do objectivo de trazer histórias, neste caso africanas, ao mundo através da animação, como já se referiu, e assim reforçar a identidade local. 

“É um projecto que temos tentado desenvolver” 

Um sonho que não tem sido fácil, pois “é um conteúdo que requer muito tempo para se produzir, não tens profissionais suficientes e ninguém paga para isso”, explica.

Em 2010, a equipa resolveu desenvolver uma iniciativa de desenvolvimento de uma propriedade intelectual designada “Os Pestinhas”, que se conecta com a produção de filmes de curta metragem, banda desenhada e assim transmite mensagem educativa de uma forma divertida.

Como prova de conceito, já se produziu 2 curtas. Um Presente Especial em 2019 e Os Pestinhas e o Ladrão de Brinquedos em 2013.

Actualmente uma das produções que está a ser desenvolvida pela FX chama-se Kibwe, uma longa-metragem iniciada em 2014 e já em 2019 conseguiu tornar-se beneficiário de um fundo da Epic Mega Grants para a produção deste que quando terminado será a primeira longa metragem de animação feita em Moçambique e por moçambicanos.

O programa Mega Grants permite com que qualquer criador que tenha um projecto em curso possa aplicar e posteriormente a avaliação é decidido o apoio. 

“Tivemos a sorte de receber uma resposta positiva em 2021, e temos estado a produzir. Fizemos o casting, gravamos as vozes dos actores, fizemos o primeiro trailer que terminamos em 2022.”

Nildo Essa

Entre pausas e avanços que marcaram o projecto, desde Março de 2023 que a equipe decidiu seguir a tempo inteiro na produção do filme e espera-se que dentro de um ano o sonho de se ter o primeiro filme de animação 100% moçambicana esteja terminado.

“Ser comparada com uma Disney faz bem ao ego”

Se com tantas dificuldades pode se ou não sonhar com uma Disney moçambicana, Nildo gosta da elevação do projecto a este nível, uma vez que Disney sempre foi uma das marcas por si apreciada, e “é uma coisa que faz bem ao ego” e significa que embora existam dificuldades no processo, as pessoas estão a gostar do trabalho e “sabe bem”. 

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Contudo, a comparação por si só ainda não completa a realização que pretende alcançar por ainda não ter conseguido fazer o seu primeiro filme, criar uma escola de animação e colocar Moçambique no mapa nesta área. É no Kibwe que estão depositadas as esperanças para a mudança do cenário. 

Se está valer a pena o sacrifício para o alcance destes sonhos, Nildo revela que financeiramente não, mas não é o dinheiro que move o projecto, mas sim o seu gosto e fascínio desde a tenra idade por desenhos animados.

“Não estamos a fazer pelo dinheiro…Estamos a fazer porque queremos saber como é que se faz, e é uma coisa que vale a pena fazer e queremos saber como se conta uma história através de bonecos animados.”

Ainda que o sonho seja difícil, desistir não está na lista das opções, a meta é continuar a tentar e no final será um ganho o aprendizado. 

“Não temos indústria de animação…”

Nildo Essa

Numa análise sobre a indústria de animação em Moçambique, para Nildo, não se tem uma indústria de animação e nem se quer uma indústria de cinema. “Nós temos pessoas que fazem filmes, mas daí considerar indústria, não acho que seja correcto”, explica.

Ainda há muito por se fazer. Na lista dos passos para tal, acredita que devia existir incentivos,  o governo deveria apoiar mais a área cinematográfica no geral.

Ser teimoso e persistente, são as duas lições aprendidas por Nildo Essa ao longo desta jornada e usa como exemplo o facto de nunca ter feito um curso de animação e mesmo assim trabalhar nesta área. 

Sempre foi um sonho fazer um curso nesta área, concretamente de Belas Artes, porém, na altura não existia um curso Superior de Belas Artes, e o curso mais próximo deste sonho foi a arquitectura.

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