Wilford Machili é o nome do jovem moçambicano que se prepara para colocar mais um filme moçambicano na prateleira da maior plataforma mundial de streaming de filmes, Netflix.
É cineasta há mais de 5 anos e vê no audiovisual como a ferramenta certa para comunicação e contar histórias. Chega ao cinema após ter deixado o curso de arquitetura e urbanismo, mas quando parou os estudos “não tinha a certeza de que chegaria a produzir filmes”, conta em conversa com a Kabum.
Dentro do cinema, foi tudo baseado no autodidatismo, revela que teve bons professores, através do envolvimento em vários projectos que construíram a sua carreira artística.
“Sol de Carvalho foi dos mais interessantes e outros projectos moldaram o meu percurso, como a telenovela Maida e agora o seriado Kuga Munu para a Multi-Choice”,
revela.
Dentre os desafios e lições, ao longo desse percurso, destacou-se a importância de nunca dar ouvidos a ninguém, pois todos estão com medo. “ Tu nunca vais poder viver de fazer filmes” … “porque não?”, são essas algumas das frases que muito ouviu mas preferiu deixar de lado.
A produção do seu primeiro filme, é até hoje o maior desafio desde que se vê no mundo da indústria cinematográfica, uma vez que lhe passou a visão de quão trabalhoso é sonhar com o “sucesso” neste espaço, e também, passou a ideia de perceber do que era capaz.
“Produzir meu primeiro filme foi meu maior desafio, eu só passei a saber que seria capaz a partir daquele momento”, conta.
De lá até cá, desistir nunca foi opção, há no cinema algo que o coloca em activo e em constante movimento. As dificuldades são muitas mas se os sonhos que tem forem concretizado, vai valer muito a pena.
Um filme na Netflix
Ter um filme na Netflix, continua a ser um dos grandes desafios para muitos jovens africanos e moçambicanos, porém, para o jovem, não devia ser visto como algo de outro mundo, devia ser visto como mais uma plataforma de promoção dos cineastas, igual ao que acontece com artistas através da Apple Music, plataforma de streaming musical.
“Um filme na Netflix não devia ser algo surpreendente, sinceramente acho que todos os cineastas deveriam olhar para Netflix como os cantores que cá olham para plataformas como Apple Music e outras”.
A sua corrida à Netflix acontece através da produção do filme “Lino”, e crê que caso consiga “com certeza mais pessoas poderão olhar para o meu feito e motivar-se. Garanto vos que depois de mim vêm mais uns 3 e depois mais uns tantos, há muito talento por aqui, precisa só ser tirado da caixa”, explica.
Não é este o filme dos seus sonhos, mas precisa produzi-lo para chegar lá. Há muito que tem trabalhado no seu filme dos sonhos e que acredita que lhe pode valer um Óscar e sentar-se à mesa com outros cineastas colossais.
“Pretendo produzir o filme em 2024, infelizmente poucas obras deste género são produzidas cá e parece assim um projecto muito ambicioso, meu filme custa pelo menos 400 mil dólares e esse filme em outras indústrias é de super baixo custo”,
conta em alusão ao filme Lino.
Para Wilford, um trailer bem produzido, com os melhores níveis de exigência, pode ser o caminho para o Lino chegar à Netflix. “Temos essa capacidade, já fiz os estudos, agora tenho que materializar”.
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Uma análise para o cinema moçambicano
Num olhar para o cinema moçambicano, assume que este tem vindo a dar passos motivadores, com jovens a produzir filmes, salas de cinema como o Scala vão dando espaço a novos criadores, plataformas digitais como o Net Kanema vão abrindo portas para a distribuição.
“Nem se quer falávamos sobre estas coisas a 3 anos atrás. Talvez com mais investimentos mais portas se abrem. É bom para mim testemunhar o que está a acontecer no cinema agora, fazer parte então, enche-me o coração”.
Uma das coisas que mais dá-lhe orgulho foi ter se tornado num Realness Alumni, seguindo os prémios que já conquistou e as conexões que vão marcando o processo.
E sobre onde quer chegar, Wilford Machili disse: Ninguém acredita, mas eu vou ganhar um Óscar um dia. Se isso acontecer, terei colocado Moçambique no mapa e realizado uma das maiores conquistas para Moçambique e para o nosso continente.