Há mais de 15 anos que Cíntia Banze, actual Head of Information Technology (Directora de Tecnologia da Informação) na Hollard Seguros, estabeleceu o seu contacto com a tecnologia. A história inicia-se na faculdade, com esta área a surgir como uma opção que viria a tornar-se no caminho certo a seguir.
Observar, ouvir e aprender: são estas as três palavras que partilha com a Kabum para a sua descrição. Aliada a elas, busca soluções que possam agregar valor ao negócio, na mesma medida em que procura por desafios e esforça-se por manter uma mentalidade de crescimento constante.
“A tecnologia surgiu como uma opção no ensino superior e rapidamente se tornou o caminho certo. Quando aprendi a programar pela primeira vez, fiquei encantada com o facto de poder criar algo do zero. Ali tive a certeza de que era esta a área onde queria construir a minha carreira”, conta.
Da certeza do que seguir, licenciou-se em Tecnologias de Informação pela Universidade Eduardo Mondlane (2010) e, mais tarde, concluiu o mestrado na mesma área na Cape Peninsula University of Technology (2013).
A sua carreira profissional inicia-se como desenvolvedora na Mozambique Stock Exchange, até chegar à Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) em 2012, onde começou a sua jornada de liderança em tecnologia.
“Mesmo sob pressão, é possível fazer bem feito”, afirma Cíntia Banze.
Na BVM, Cíntia esteve à frente do desenvolvimento do sistema que suportou a maior Oferta Pública de Venda (OPV) em Moçambique, um projecto de grande visibilidade pública e exigência técnica.
“Foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes. Pela sua escala, pela importância para o mercado financeiro e pelo orgulho de ter liderado algo tão relevante”, recorda.
Este sucesso provou à profissional que é possível causar impacto mesmo sob pressão, quando a missão está alinhada com dedicação, foco e empenho de todos os envolvidos.
Pouco depois, viria a juntar-se à Hollard Seguros, onde se encontra actualmente, através da sua contratação por uma headhunter (caçadora de talentos). Acredita que o trabalho desenvolvido na Bolsa de Valores foi determinante para despertar o interesse da recrutadora.
Na Hollard, os desafios também fazem parte da caminhada, constantes e entusiasmantes, com o envolvimento de equipas multidisciplinares e contextos em permanente evolução.
“Depois de me juntar à Hollard, fui desafiada a liderar a mudança da plataforma core de seguros, um projecto crítico para a organização.”
Este cenário permitiu-lhe alcançar a lição de que a tecnologia precisa de servir o negócio, e não o contrário. “Para entregar valor ao negócio, é essencial saber comunicar em diferentes linguagens, não apenas a técnica, mas também a dos colegas das áreas comerciais, financeiras ou operacionais.”
Enquanto profissional, acredita que uma das habilidades que a tem impulsionado é a capacidade de “ligar os pontos”: compreender as diversas necessidades do negócio, traduzi-las em soluções tecnológicas eficazes e manter o foco no impacto final.
“Vejo a tecnologia como um meio e não como um fim, e acredito que essa clareza ajuda-me a navegar com confiança em ambientes complexos e em constante mudança”, revela.
O foco em aprender, crescer e entregar resultados fez com que, mesmo existindo uma disparidade em termos de representatividade de género, não sentisse a necessidade de provar o seu valor. No entanto, reconhece que essa disparidade é uma realidade com impacto concreto na vida profissional e pessoal das mulheres.
“Muitas mulheres ainda precisam demonstrar uma capacidade técnica ou profissional acima da média para serem aceites em certos ambientes. É um tema que deve continuar a ser debatido com seriedade.”
“Ainda somos uma minoria na tecnologia”
Apesar dos avanços na inclusão e reconhecimento feminino, Cíntia acredita que o número ainda é reduzido. Há um trabalho que deve começar logo na base, para que essa inclusão se traduza em realidade.
“A inclusão deve começar cedo, nas escolas, onde devemos encorajar as meninas a explorar as ciências, a não temer a matemática e a considerar, com naturalidade, carreiras em tecnologia e engenharia.”
A falta de representatividade começa com a ausência de estímulo e referências. É fundamental a criação de espaços seguros para o crescimento profissional das mulheres e a promoção de modelos de liderança diversos, pois a “mudança requer intenção, compromisso e continuidade”.
Outras histórias por ler:
- Sheila Muianga: a formar a nova geração de mulheres líderes
- “Se não tens curiosidade, ficas para trás profissionalmente”, Cintia Banze
A aposta na liderança feminina é, para Cíntia, uma missão capaz de mudar o rumo da tecnologia, tornando-a mais colaborativa, transformadora e com foco no impacto.
Não é necessário saber tudo, o mais importante é a curiosidade
No início da carreira, faltou a Cíntia alguém que lhe dissesse que não é necessário saber tudo antes de começar: o mais importante é ter curiosidade, vontade de aprender e resiliência.
“Também gostaria que me tivessem alertado para a importância das relações interpessoais. O ambiente de trabalho é feito por pessoas, e saber comunicar e colaborar é fundamental.”
Para a nova geração de mulheres nas STEM, Cíntia Banze, que hoje tem como base de inspiração Esselina Macome, Alan Turing, Gércia Sequeira e colegas de trabalho, deixa uma mensagem: que sejam intencionais nas suas escolhas e procurem trabalhos e pessoas que as inspirem.
“Que tecnicamente procurem ser boas no que fazem, entender o cerne da questão e não façam as coisas mecanicamente (‘só por fazer’). Se realmente entenderem o problema, serão capazes de aplicar a mesma solução em contextos diferentes, e essa habilidade é uma ferramenta muito poderosa”, recomenda.
Importa, ainda, adoptar uma filosofia de melhoria contínua, tanto na vida profissional como pessoal, sem esquecer de fazer pausas para desfrutar do processo.