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“É muito fácil um moçambicano conseguir emprego fora do país”, Paulo Enoque

Paulo Enoque Safrão
Paulo Enoque Safrão, Application Architect

Paulo Enoque Safrão é um dos moçambicanos que está a construir a sua carreira internacional como profissional na área de tecnologia. Em entrevista, revelou ser fácil para um moçambicano ter sucesso no estrangeiro e que só é necessário seguir alguns passos para tal.

Há quase um ano que saiu do país, para a Alemanha, em busca de novas oportunidades e da internacionalização da sua carreira. Actualmente é Application Architect (Arquiteto de Aplicações) na Renesas Electronics, fabricante japonesa de semicondutores.

O seu contacto com a tecnologia começou com a compreensão do funcionamento dos jogos, e com isso fez um curso técnico no ITC (Instituto de Transportes e Comunicações), que o expôs à programação.

Do contacto com a programação, começou a construir soluções únicas que, eventualmente, resultaram no seu destaque na instituição e na conquista de uma bolsa de estudo por ser o melhor aluno.

“Trabalhei muito em programação, construindo coisas para o uso do dia-a-dia, e depois, decidi fazer engenharia informática no ISUTC, através da bolsa de estudo, por me ter graduado como melhor aluno do ITC”,

conta para Kabum.

Foi no Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC) que, ao lado do seu amigo e então colega, viria a criar a sua primeira startup, designada Ability Team, para resolver problemas do quotidiano.

Através da marca, participaram do primeiro Open Dataton no país, onde conseguiram o pódio com o More Life, uma aplicação de doação de sangue, e tiveram a oportunidade de participar num outro hackathon em Portugal.

Em 2018, conheceriam mais um país europeu, a Hungria, com outra aplicação chamada Meu Txi, onde foram reconhecidos pela União Internacional das Telecomunicações (UIT) pela solução.

Com o reconhecimento, decidiu procurar mais oportunidades para o seu crescimento profissional. Começou a ser orador nas comunidades de tecnologia e “sempre que aparecia um treinamento, estava lá a aprender para ensinar a comunidade”.

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A construção de uma carreira de sucesso é feita de desafios. Para Enoque, o maior desafio foi criar soluções e não ter espaço para as implementar.

“Tecnologia é uma coisa que evolui muito rápido, mas, infelizmente, o ambiente em Moçambique está muitos anos para trás. E não é por mal, simplesmente é porque nós temos outros problemas, outras prioridades”, disse.

Como consequência, os profissionais obtêm muito conhecimento técnico e pouca experiência, uma vez que as empresas em que podem estar inseridos têm outras prioridades que não criar coisas novas e brilhantes.

Do conforto à internacionalização: 700 rejeições e uma aceitação 

Aliado ao seu talento e experiência, Paulo sempre teve bons empregos, que lhe garantiam cobrir o seu estilo de vida, tanto que sair de Moçambique não era prioridade, até que viesse ao mundo o seu primogénito e percebesse que estava na hora de mudar de vida e aprender mais coisas.

A ida à Alemanha foi uma faca de dois gumes. Fácil de um lado, pois o seu amigo Alírio Mambo já estava no terreno e sabia como funcionavam as coisas, tanto que sempre lhe dizia para ir ao país. Difícil se olhar pelo número das rejeições que recebeu.

“Basicamente, o meu amigo Alírio Mambo sempre me dizia: ‘Você deveria vir aqui’. Mas sempre lhe dizia que eu tinha outras prioridades”,

explica.

A busca por novas oportunidades iniciou em Agosto do ano passado. Diariamente, Safrão realizava 20 candidaturas através do LinkedIn, e no processo, teve mais de 700 rejeições. À medida que recebia rejeições, com o feedback que era fornecido, mais sabia sobre o que tinha que melhorar e começou a ser chamado para entrevistas.

Antes da Renesas Electronics, teve nove entrevistas de nove empresas, onde obteve lições valiosas para o sucesso na entrevista da Renesas Electronics.

Na Renesas, passou por cinco etapas no processo de contratação. O primeiro desafio foi a falta de suporte quanto ao pacote de relocação, o que não era problema para Enoque, até que na última fase impressionou a empresa e conseguiu o pacote de relocação como bónus.

Ir à Alemanha foi um restart. Foi aceitar estar longe das pessoas mais próximas, privar o filho de crescer ao lado dos familiares e vender tudo o que adquiriu ao longo do tempo.

“Tivemos de abrir mão de todas as coisas, da nossa mobília, para ver se tínhamos dinheiro para viajar e iniciar a vida. Tivemos, sim, um pacote de relocação, mas o valor não é enviado de antemão. Tens de custear todos os custos iniciais, uma vez que esse valor é reembolsado no primeiro salário.”

Viver fora do país através do que se ama é gratificante para Safrão, uma vez que consegue ver que valeu a pena apostar em tudo que aprendeu, mas também é muito sensível, pois há que lidar com as incertezas caso perca o emprego.

De todas as incertezas, às vezes o sossego só vem pelas leis que dão suporte e ajudam os trabalhadores a nível dos países da União Europeia, que tornam a região um eldorado para trabalhadores.

É muito fácil conseguir um emprego fora do país

Trabalhar fora do país é o sonho de vários moçambicanos na tecnologia, e para Enoque é uma das coisas mais fáceis de um moçambicano conseguir, pelo amplo conhecimento que se adquire ao longo do tempo, e é só uma questão de ter uma meta, foco, consistência e não desistir.

“Defina o seu objetivo e só pare quando o atingir. Quando decidi sair para a Alemanha, fazia 20 candidaturas por dia, independentemente de ter sido rejeitado ou não”, explicou.

É preciso também confiança e entregar acima do esperado. “Se você tem que trabalhar oito horas por dia, isso não o torna especial, é o que se espera. Mas se trabalhar oito horas e trinta minutos, esses trinta vão separá-lo daquilo que as outras pessoas estão fazendo”, concluiu.

A digitalização ainda está crua em Moçambique

Enoque considera importante aceitar que Maputo não é Moçambique, e que a maior parte das pessoas não têm dispositivos para usufruir da digitalização.

Há muita oportunidade para os jovens implementarem soluções e perceberem que problemas estão a resolver, no entanto, faltam pessoas para testarem as soluções como deve ser.

Com pouco mais de dez anos de carreira, a sua maior inspiração é Jesus Cristo, pela “quantidade de sabedoria, renúncia das vontades para nos ajudar a ser seres melhores”, seguindo profissionais como Alírio Mambo, Rosário Pereira e Gerson Zandamela; e o irmão Santos Enoque, por nunca desistirem e construírem carreiras de sucesso.

Kabum Digital Revista
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