A tipografia é um dos pilares fundamentais na comunicação, capaz de transmitir mensagens, emoções e identidades de forma sutil, mas poderosa.
Em uma situação que pouco se fala dela e do seu poder, Aboubakar Bin, designer moçambicano, aparece com uma iniciativa de proporcionar um repositório de fontes acessíveis aos moçambicanos para uso comercial, sem o medo de, no futuro, serem multados.
A inspiração surgiu da sua profissão e por considerar o texto, além da imagem, um dos pilares fundamentais na sua actividade para a composição da comunicação visual.
“A paixão pela tipografia em si e, acredito, a maior influência foi também a questão de conceber livros. Os livros que eu faço, a maior parte deles, são de teor tipográfico, e através da tipografia, criou uma forma de simbologia para transmitir a mensagem”, conta.
Com esta actividade, Aboubakar Bin pretende permitir que marcas, entidades, empresas e pessoas tenham acesso a uma tipografia que sirva ao propósito específico que desejam, respondendo às necessidades do mercado moçambicano e, em particular, de África.
Para haver procura, é preciso ver o produto
Desde 2022 que se interessa pela tipografia. De lá para cá, cada ano serviu para aprender mais sobre a área, e considera que o que está a acontecer agora é um reflexo do que foi assimilado e da busca por educar as pessoas sobre o que é a tipografia e como ela está presente no nosso dia-a-dia.
“Percebi que é um campo de possibilidades e vejo que há necessidade de se investir nesta área. Há necessidade de uma espécie de educação para os clientes sobre o que é a tipografia e também de a tornar acessível a toda a gente que, talvez, não a compreendia, apenas a usava”, revela.
Os desafios são vários, mas, com a tecnologia, alguns acabam por ser reduzidos. O que persiste é a falta de acesso a conteúdos livres e, em termos comerciais, a falta de literacia dos clientes, assim como dos designers, sobre o uso da tipografia.
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Aboubakar exemplifica o facto de se terem no país várias marcas que usam tipografias sem obedecer a nenhuma licença, correndo o risco de serem multadas pelos proprietários.
Aliado a isso, através das redes sociais, tem apresentado algumas das iniciativas no ramo como a criação de uma tipografia para a operadora de telefonia móvel (Tmcel).
“Toda a gente pode tornar-se num bom designer”, afirma Aboubakar Bin.
Para Aboubakar, a área de design no país ainda é muito fértil e tem espaço para todos, considerando que esta é uma área mais democrática. Há a possibilidade de se tornar e fazer um bom design.
No entanto, regista uma crescente procura por serviços de design por parte dos clientes, o que abre espaço para que o processo de aprendizagem seja, por vezes, muito superficial.
“O mercado exige demasiado algo que muitos poucos compreendem verdadeiramente, digo em termos de fundamentos, porque o design, no geral, é uma linguagem, e toda a linguagem tem os seus fundamentos, as suas bases teóricas e práticas”, explica.
Para Aboubakar, esta situação faz com que o design seja deficiente, devido a essa procura e a um processo de aprendizagem demasiado flexível, sem bases consistentes.
Num mundo mais visível, onde há facilidade na busca por inspiração, acredita-se que há necessidade de, em algum momento, o designer ser alguém que, na primeira fase da sua carreira, leve muito tempo a criar e, de acordo com o que vai consumindo, seja mais flexível, “porque vai crescendo gradativamente e vai acompanhando o tempo em si”, concluiu.