Os Informais, banda desenhada do Estúdio Criativo Anima, e a primeira de origem moçambicana, fez recentemente a sua migração ao digital.
A banda é uma vénia aos vendedores informais, que representam uma parte significativa da cultura e economia moçambicana, transformando-os em super-heróis da pátria através da história de personagens como Esmalte, Maninha, Miopia, Esticão e Paito que vivem num “contraste insuportável entre a cidade e os subúrbios”.
A chega ao digital acontece através do lançamento do site, onde o público possa ter mais informações sobre a ideia, as personagens, como adquirir a banda e outros produtos que advém do lançamento da banda desenhada como é o caso de posters, pins, stickers, t-shirts , que levam consigo desenhos das personagens, e da própria revista.
Segundo Ana Queiroz, argumentista da banda desenhada, citado pelo O Gerador, os trabalhadores informais têm algo de muito especial.
“O sairem todos os dias para uma jornada um pouco imprevisível, sem saberem o que vai acontecer, esse esforço que envergam todos os dias…Existe uma vida de rua muito interessante, no entanto, as pessoas estão muito expostas à insegurança, não têm proteção social, não têm garantia do que vão ganhar no final do mês, não têm condições de trabalho. Não quer dizer que estas figuras tenham de deixar de existir, podem existir, mas de uma forma em que as pessoas tenham alguma garantia”.
O projecto é também inspirado numa realidade que marcou uma época, repleta de cartazes e imagens de propaganda ao estilo da era soviética (como boletins, semanários e magazines) aliando a inspiração já mencionada, de um grupo de vendedores informais que tenta sobreviver numa cidade que rapidamente se transforma num espelho do seu próprio futuro, apagando tudo o que é percebido ou conotado como velho e ultrapassado.
Dando forma a estas referências, procura-se também preencher uma lacuna visível no mercado editorial da Banda Desenhada em Moçambique, criando personagens únicas que se comunicam com os leitores, usando uma linguagem local e trazendo à tona aspectos que compõem o mosaico social moçambicano.
Da quase inexistência deste mercado e tipo de contar histórias em Moçambique, Hélio Link, ilustrador da revista, considera “embrionário perceber-se o que é realmente fazer-se banda desenhada em Moçambique”, mas que, para já, tem sido um desafio, não por serem os primeiros, mas por terem de reavivar uma cultura que se havia perdido.
Para além da Ana Queiroz e Hélio Pene, está na lista dos criadores João Roxo no desenvolvimento narrativo e Álvaro Tarumã na escrita dos diálogos.
Os Informais, chegaram às bancas em 2021, no entanto o projecto começou a ser sonhado em 2014, e em 2017, viu a sua “parte física” começar a ser traçada.