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Olímpio Machachane, um exemplo de que educação molda a vida

Olímpio Machachane, Cientista de Dados
Olímpio Machachane, Cientista de Dados

“Tudo posso naquele que me fortalece”, diz Filipenses (4:13), e Olímpio Machachane, jovem moçambicano e cientista de dados, encontrou nesse versículo o segredo para a construção da sua carreira profissional.

Actualmente a residir na Inglaterra, onde é Gestor de Dados na Airline Economics, possui uma carreira marcada pela aposta no sector da logística e aviação, aliada à formação contínua e à crença de que a educação e a resiliência são as chaves que abrem a porta do sucesso.

A curiosidade foi a força motriz para a inserção de Olímpio Machachane na tecnologia, que, posteriormente, significaria a busca pela resolução de problemas.  

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“Desde cedo, tive interesse em compreender como as coisas funcionam e em utilizar a tecnologia para melhorar processos. Paralelamente, sempre fui fascinado pela aprendizagem em geral e pela área da economia, especialmente devido à sua natureza analítica”, explica.

Formou-se inicialmente em Engenharia Informática (licenciatura) e, mais tarde, concluiu um mestrado em Ciências de Dados. 

O objectivo? Unir a vertente técnica às áreas analíticas e socioeconómicas, de forma a apoiar na tomada de decisões mais assertivas e na geração de valor tangível nas empresas, com maior foco não apenas na eficiência operacional, mas também no impacto financeiro e económico das organizações.

A sua vida sempre esteve recheada de desafios. Nasceu em Moçambique, onde frequentou o ensino primário, mudou-se para Portugal (onde concluiu a licenciatura), passou pela Alemanha (onde prosseguiu a especialização em Ciências da Computação) e, actualmente, vive na Inglaterra, onde trabalha na empresa supracitada e concluiu o seu mestrado em Ciências de Dados.

Viver e estudar em quatro países diferentes tornou-o numa pessoa extremamente adaptável, característica que se reflectiu na sua carreira profissional, onde a adaptabilidade é crucial, dada a natureza dinâmica da tecnologia, que está em constante evolução.

De Consultor de Viagens na Emirates a Gestor de Dados na Airline Economics

A sua chegada à Airline Economics ocorreu numa fase de maior maturidade profissional, após a sua saída da Emirates, numa vaga que lhe foi apresentada pela irmã mais velha, que já trabalhava na empresa.

A posição disponível era para Travel Consultant (Consultor de Viagens) e, apesar da sua formação em Engenharia Informática, decidiu candidatar-se, alinhando esta decisão com o seu principal objectivo ao chegar à Inglaterra.  

“Um dos meus primeiros objectivos era encontrar emprego, independentemente da área, para me integrar na cultura profissional do país. Assim, candidatei-me, fiz as entrevistas e, felizmente, fui seleccionado”, relata.

Devido ao uso de sistemas internos personalizados, a Emirates proporciona formação aos seus colaboradores durante um período probatório de seis meses.  

Este ambiente revelou-se perfeito para Olímpio, que aproveitou para alimentar a sua sede de aprender, superar desafios e evoluir profissionalmente. Cumpriu com sucesso o processo formativo, tornando-se Travel Consultant permanente.

Paralelamente, enquanto trabalhava na Emirates, Olímpio iniciou o seu mestrado em Data Science (Ciência de Dados) na Universidade de Salford, reconhecida pelos seus programas de estágios remunerados em Ciência de Dados. 

Na altura, foi seleccionado entre os melhores alunos do programa, sendo escolhido pelas três principais empresas participantes.

Abdicar de uma melhor remuneração por um ambiente mais desafiador  

Este foi um dos momentos cruciais da sua jornada, pois fez com que se sentisse especial e acreditasse cada vez mais no seu potencial.  

Durante este processo, seguindo o aconselhamento dos seus mentores, abdicou de uma vaga com melhor remuneração para aceitar outra, especificamente no Collinson Group, que lhe oferecia um ambiente mais desafiador e inovador.  

Na Collinson, surgiu um dos pontos marcantes da sua carreira. Foi-lhe confiada a liderança de um projecto de teste (POC–Proof of Concept), que estava arquivado há algum tempo devido ao envolvimento da equipa de dados noutros projectos prioritários.  

“Eu não tinha experiência, mas estava disposto a aprender e dar o meu melhor para adicionar valor à empresa”, recorda.  

A empresa pretendia internalizar um serviço que até então era fornecido por outsourcing.  Com liberdade técnica e criativa, e sob a orientação de três colegas experientes, decidiu combinar modelos de machine learning com a integração da API da OpenAI (criadora do ChatGPT), algo que na época ainda era recente na indústria, enfrentando ceticismo por parte dos mais conservadores.  

O que começou como um simples estágio transformou-se num dos principais projectos do departamento, com potencial para poupar mais de 30 mil libras anuais em custos para a empresa.  

O sucesso deste projecto levou-o a colaborar directamente com a Directora de Dados e Análises da empresa e outros stakeholders na planificação estratégica do projecto, através de apresentações. 

A Collinson implementou o projecto e aprimorou-o, envolvendo engenheiros e cientistas de dados mais experientes. 

Após o estágio, obteve um contrato de curta duração na Raven Housing Trust, uma das empresas parceiras da universidade. Posteriormente, iniciou a busca por um emprego permanente.  

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Durante este período, a sua rotina era enviar cerca de 50 candidaturas diariamente e participar em várias entrevistas. Na mesma altura, o Collinson Group contactou-o para oferecer um contrato adicional de seis meses. No entanto, recebeu simultaneamente uma proposta da Airline Economics para uma posição permanente como Data Manager.  

Na Airline Economics, viu uma excelente oportunidade para solidificar a sua carreira na área de dados no sector da aviação internacional e optou por esta oferta.  

Na sua posição de gestor, contribuiu tanto a nível técnico como a nível de gestão, participando no desenvolvimento de soluções personalizadas, desde análises de dados específicas até à criação de plataformas de análise para a indústria da aviação.  

Embora a sua entrada no sector da aviação não tenha sido planeada, acredita que houve um alinhamento natural nessa direcção. Continuou a apostar na sua formação como analista de dados, dado o crescente impacto que os dados têm nestas indústrias.  

“O mercado está sempre à procura de melhorias operacionais, e a análise de dados é muitas vezes o factor diferenciador, tornando o trabalho dos profissionais de dados essencial para impulsionar a inovação e a eficiência”.

“Abdiquei do meu tempo pessoal para me tornar o profissional que sou hoje”

Para alcançar o que é hoje, Olímpio considera que teve de abdicar de várias coisas, nomeadamente do seu tempo pessoal. Investiu incontáveis horas em estudos contínuos fora do horário de trabalho, o que implicou sacrificar momentos que poderia ter passado com a família e amigos.  

Essas renúncias, no entanto, trouxeram grandes recompensas, como o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas complexos, o envolvimento em projectos inovadores e a oportunidade de contribuir para o crescimento de empresas através da análise de dados.  

“Trabalhar fora força-nos a crescer de maneiras inesperadas” 

Residir e trabalhar no estrangeiro é, na opinião de Machachane, uma das experiências mais enriquecedoras que se pode viver, pelas portas que se abrem através de novas conexões e pela evolução contínua. Contudo, estas oportunidades vêm frequentemente acompanhadas de desafios significativos.  

De acordo com o profissional, um aspecto muitas vezes ignorado é o impacto emocional profundo que esta experiência pode ter, devido ao processo de adaptação a uma nova cultura e a um ambiente de trabalho diferente. Essa adaptação não é imediata e pode originar momentos de incerteza e vulnerabilidade.  

“Há situações em que sentimos a falta do apoio familiar e social que tínhamos no nosso país de origem”, confessa.  

Outro desafio importante é a pressão adicional para provar o próprio valor. Como estrangeiros, é comum sentir-se a necessidade de “nos esforçarmos ainda mais para conquistar a confiança da equipa local e superar barreiras culturais”, sublinha Olímpio.  

E como conseguir uma vaga fora do país?

O investimento em educação é o primeiro passo, seguido da necessidade de adoptar uma mentalidade proactiva e determinada, bem como a especialização em áreas com elevada procura a nível internacional.  

Adicionalmente, participar em cursos, workshops e obter certificações relevantes, construir um portfólio sólido e actualizado, dominar a língua inglesa, manter uma presença online activa, como um perfil actualizado no LinkedIn e integrar comunidades profissionais são estratégias que ajudam a criar redes de contacto e a estar em sintonia com as tendências do mercado.  

Acima de tudo, realça a importância de acreditar em si mesmo e ser resiliente. A concorrência no estrangeiro é intensa, e será necessário aprender a lidar com rejeições.  

“A perseverança, a proactividade e a confiança nas suas competências são essenciais para alcançar o sucesso. Não basta ter as qualificações certas, mas também demonstrar vontade de aprender, adaptar-se e contribuir para o sucesso das organizações”, explica.  

Lições da Inglaterra sobre digitalização para Moçambique

Reflectindo sobre o que a Inglaterra faz e que pode ser implementado para acelerar a digitalização em Moçambique, Olímpio destaca:  

  • Investimento em infraestruturas tecnológicas, sobretudo para melhorar a conectividade em áreas rurais;  
  • Formação e educação em competências digitais, permitindo o acesso inclusivo à tecnologia;  
  • Modernização dos serviços públicos, tornando-os mais acessíveis e eficientes;  
  • Incentivos fiscais para apoiar empreendedores na criação de soluções digitais inovadoras;  
  • Protecção de dados pessoais e empresariais através do desenvolvimento de um quadro regulamentar robusto, semelhante ao GDPR no Reino Unido, aumentando a confiança no uso de serviços digitais.  

Ao longo da sua jornada, Olímpio encontra nos seus progenitores a inspiração para inovar e promover mudanças. 

Do lado paterno, tem o exemplo de integridade, disciplina, perseverança e liderança, que sempre serviram de bússola para a sua vida. Hoje, a sua missão passa também por honrar esse legado.  

“O seu desaparecimento físico foi difícil, mas transformei essa experiência numa fonte de força. Acredito que, onde quer que ele esteja, se orgulha do caminho que estou a seguir e, em cada conquista, sinto que estou a honrar a sua memória e a perpetuar o seu legado”,

revela. 

Na mãe, Olímpio encontra a personificação da humildade e da resiliência. A sua coragem e capacidade de cuidar da família ensinaram-lhe o valor da determinação e da integridade, que hoje aplica em todos os aspectos da sua vida. 

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